Que Amsterdã ocupa uma posição extremamente romântica no contexto turístico ninguém questiona. O cenário pitoresco do centro da cidade, configurado pela sequência de edifícios dispostos em lotes de testadas estreitas, posicionados lado a lado, com uma escala absurdamente humana e com a diversidade de cada edifício, um diferente do outro, além de diversas pontes de conexão entre os canais, são um deleite para qualquer visitante.
A sensação desta charmosa desordem é complementada pela possibilidade de explorar e decifrar cada pedacinho da cidade à pé. Em Amsterdã, há a predileção pelo pedestre, seguido pelo ciclista (milhares de ciclistas), pelo bonde e por último pelo veículo automotivo. Este último, circula em descompasso com as vias estreitas e apinhadas de gente. Todo cuidado é pouco ao circular pela cidade, pois a impressionante quantidade de ciclistas, todos respeitosamente ordenados em ciclovias, que também possuem sinalização semafórica, detestam desviar de turistas desavisados e distraídos.
Mas o que realmente impressiona ao visitar esta charmosa e liberal cidade são os novos planos de expansão e requalificação da cidade na sua porção noroeste. A grande descoberta urbanística e arquitetônica localiza-se nesta porção oeste, porém escondidinha pela linearidade da Centraal Station. Em seus arredores, um verdadeiro canteiro de obras em plena atividade, estão localizados edifícios singulares de grande apelo estético e referências contemporâneas dignas de destaque: o Nemo - Museu de Ciência e Tecnologia, do italiano Renzo Piano, parece flutuar nas águas do rio Ij; o edifício Arcam - Centro de Arquitetura de Amsterdã, que dispõe de roteiros interessantes para passeios turísticos à pé e de bicicleta e possui muitos livros sobre a arquitetura holandesa; sem falar em inúmeras pontes em estruturas tubulares que dão um destaque às passagens.
Edifício Nemo - Renzo Piano.
Edifício Arcam.
O Masterplan antecipa as transformações futuras aos visitantes.
Ao chegar às docas orientais de Amsterdã, que abrigaram atividades portuárias por mais de 100 anos, observa-se uma nova mentalidade perante a arquitetura e o urbanismo. O plano de requalificação desta antiga área portuária atuou na provisão de alojamento para o tecido saturado de região central. A dilatação da atividade residencial ganhou fôlego a partir de um masterplan desenvolvido para as penínsulas de Borneo Sporenburg e para a Ilha de Java. A reurbanização das penínsulas, proposta pelo grupo West 8, vencedor do concurso, é um híbrido de habitações unifamiliares e superblocos multifamiliares chamados de Meteoritos, que rompem com a horizontalidade das casas intimistas. Sem falar nas pontes em aço vermelho intenso com apoios em madeira bruta que conectam os dois intervalos. Só as pontes, já valem a esticadinha à esta porção escondida da cidade. Aproveite para atravessar a ponte mais elevada e experimentar a intensidade de contemplar uma nova paisagem tipicamente holandesa, mas desta vez, explicitamente contemporânea.
A Ilha de Java, por sua vez, projeto de Soeters Sjoerd (1995-2000), é uma fusão de modernidade e tradição. O plano prima pela reprodução da diversidade e pela variabilidade já reconhecida no tecido histórico tradicional da cidade, associando a casa individualizada do lote à rica composição volumétrica de blocos multifamiliares. O
masterplan cria transversalmente canais artificiais para resgatar o cenário pitoresco das casas geminadas, com pontes de pedestres delicadas que reforçam a nostalgia e o romantismo. O interior das parcelas é preenchido com espaços semipúblicos, uma vez que se pode transitar tranquilamente entre os blocos.
Fotos relacionadas à Ilha de Java, com mescla de habitações unifamiliares nos canais transversais e edifícios multifamiliares de até 08 pavimentos, com pátio interno.
Fotos relacionadas às penínsulas de Borneo Sporenburg, que abrigam variações tipológicas e uma paisagem urbanística singular. Plano: West 8.