terça-feira, 9 de novembro de 2010

Memorial do Holocausto, Berlim (1998-2005)

A materialização da teoria de Peter Eisenman ganha forma através deste enigmático projeto, o Memorial do Holocausto, ou o Memorial dos Judeus Assassinados pelo nazismo. A simplicidade e a analogia com as lápides são recursos que contribuem para recriar um cenário desconcertante e esmagador, constituído por aproximadamente 2.700 blocos de concreto de alturas variadas que oscilam de zero a quarto metros de altura, dispostos conforme uma arbitrária organização. A verdade é que os "monolitos" estão organizados conforme uma rígida modulação, com todos os elementos alinhados e espaçados 95 centímetros para permitir o passeio do transeunte ao longo de uma quadra inteira. A experiência de percorrer as passagens transforma completamente a visão ordenada do perímetro à medida que o transeunte se afasta das bordas. A ruptura da legibilidade no interior da malha é completado pela topografia do terreno, que literalmente enterra o observador e o priva de qualquer contato visual amigável. A sensação de desorientação, abandono e opressão deste polêmico monumento só pode ser compreendida a partir do caminhar, do deslocamento e da interpretação subjetiva deste labirinto de emoções. A intenção final do arquiteto, de evocar a memória anti-nostálgica dos horrores da guerra através de um espaço enigmático, sem rotas ou percursos pré-determinados, é uma obrigação moral do arquiteto, que através do projeto permite ao usuário a experiência única de "sentir-se perdido" (Eisenman).
Referência Bibliográfica:
- Eisenman, Peter. Peter Eisenman: Feints. Skira: Milão, 2006.

Fachadas Midiáticas

Fachada do Museu de Arte Kunsthalle, em Hamburgo, Alemanha.
Fonte: Disponível em: http://www.urban-projection.com/?cat=8. Acesso em novembro de 2010.
As fachadas midiáticas são um fenômeno global, e acompanham os recursos tecnológicos disponíveis em cada localidade. Embora limitações econômicas reduzam o uso dos dispositivos à publicidade e outros conteúdos de ênfase comercial, o potencial visual das fachadas urbanas pode contribuir para a constituição de um cenário cultural rico e interativo, com democratização da arte através de um novo formato contemporâneo.

O vídeo a seguir é um exemplo primoroso da transformação de uma fachada sólida em infinitas possibilidades estéticas, com recurso de projeção em 3D. Imperdível:


domingo, 7 de novembro de 2010

Mobiliário e Arte Urbana

Miscelânea de modelos de mobiliário urbano e peças de arte em pleno destaque nos espaços públicos servem para inspirar os usuários e humanizar os espaços de convívio das cidades. De caráter utilitário ou não, em materiais nobres ou modestos, de diferentes formas e modelos, são indispensáveis aos parques, praças, ruas e espaços coletivos.
A importância da tridimensionalidade dos elementos conferem distinção aos espaços públicos presenteados com obras de "arte". Muitos permitem a interação e a difusão do conhecimento às massas menos instruídas, como um símbolo da democratização da cultura antes restrita a um grupo seleto ou reservada aos museus. Um belo ensinamento aos arquitetos que sintetizam projetos urbanísticos a meros desenhos de composição de piso, que muitas vezes sequer são apreendidos da altura do observador, ou incompreendidos pelo público leigo.


Silodam - Pluralismo Arquitetônico

Se pudesse atribuir um adjetivo ao edifício SILODAM, do grupo holandês MVRDV, diria que a palavra perfeita seria PLURALISTA! Pela magistral combinação de materiais e planos diversificados da fachada, que naturalmente refletem a diversidade inerente ao projeto, com tipos diferenciados de unidades e dimensionamentos. A referência industrial explícita brinca com o volume, que mais parece uma série de containers empilhados multicoloridos apoiados sobre a água.
Além da diversidade de cores e materiais, os detalhes das vedações verticais da fachada evidenciam a eleição de diferentes mecanismos de janelas, posicionamentos e tamanho das aberturas. O mais impressionante é o equilíbrio final do edifício, que aceita a diversidade e a condição mutável da natureza humana.





Passeio em Amsterdã - Ineditismo urbanístico

Que Amsterdã ocupa uma posição extremamente romântica no contexto turístico ninguém questiona. O cenário pitoresco do centro da cidade, configurado pela sequência de edifícios dispostos em lotes de testadas estreitas, posicionados lado a lado, com uma escala absurdamente humana e com a diversidade de cada edifício, um diferente do outro, além de diversas pontes de conexão entre os canais, são um deleite para qualquer visitante. 
A sensação desta charmosa desordem é complementada pela possibilidade de explorar e decifrar cada pedacinho da cidade à pé. Em Amsterdã, há a predileção pelo pedestre, seguido pelo ciclista (milhares de ciclistas), pelo bonde e por último pelo veículo automotivo. Este último, circula em descompasso com as vias estreitas e apinhadas de gente. Todo cuidado é pouco ao circular pela cidade, pois a impressionante quantidade de ciclistas, todos respeitosamente ordenados em ciclovias, que também possuem sinalização semafórica, detestam desviar de turistas desavisados e distraídos.
Mas o que realmente impressiona ao visitar esta charmosa e liberal cidade são os novos planos de expansão e requalificação da cidade na sua porção noroeste. A grande descoberta urbanística e arquitetônica localiza-se nesta porção oeste, porém escondidinha pela linearidade da Centraal Station. Em seus arredores, um verdadeiro canteiro de obras em plena atividade, estão localizados edifícios singulares de grande apelo estético e referências contemporâneas dignas de destaque: o Nemo - Museu de Ciência e Tecnologia, do italiano Renzo Piano, parece flutuar nas águas do rio Ij; o edifício Arcam - Centro de Arquitetura de Amsterdã, que dispõe de roteiros interessantes para passeios turísticos à pé e de bicicleta e possui muitos livros sobre a arquitetura holandesa; sem falar em inúmeras pontes em estruturas tubulares que dão um destaque às passagens.
Edifício Nemo - Renzo Piano.
 Edifício Arcam.
O Masterplan antecipa as transformações futuras aos visitantes.
Ao chegar às docas orientais de Amsterdã, que abrigaram atividades portuárias por mais de 100 anos, observa-se uma nova mentalidade perante a arquitetura e o urbanismo. O plano de requalificação desta antiga área portuária atuou na provisão de alojamento para o tecido saturado de região central. A dilatação da atividade residencial ganhou fôlego a partir de um masterplan desenvolvido para as penínsulas de Borneo Sporenburg e para a Ilha de Java. A reurbanização das penínsulas, proposta pelo grupo West 8, vencedor do concurso, é um híbrido de habitações unifamiliares e superblocos multifamiliares chamados de Meteoritos, que rompem com a horizontalidade das casas intimistas. Sem falar nas pontes em aço vermelho intenso com apoios em madeira bruta que conectam os dois intervalos. Só as pontes, já valem a esticadinha à esta porção escondida da cidade. Aproveite para atravessar a ponte mais elevada e experimentar a intensidade de contemplar uma nova paisagem tipicamente holandesa, mas desta vez, explicitamente contemporânea.
A Ilha de Java, por sua vez, projeto de Soeters Sjoerd (1995-2000), é uma fusão de modernidade e tradição. O plano prima pela reprodução da diversidade e pela variabilidade já reconhecida no tecido histórico tradicional da cidade, associando a casa individualizada do lote à rica composição volumétrica de blocos multifamiliares. O masterplan cria transversalmente canais artificiais para resgatar o cenário pitoresco das casas geminadas, com pontes de pedestres delicadas que reforçam a nostalgia e o romantismo. O interior das parcelas é preenchido com espaços semipúblicos, uma vez que se pode transitar tranquilamente entre os blocos.

Fotos relacionadas à Ilha de Java, com mescla de habitações unifamiliares nos canais transversais e edifícios multifamiliares de até 08 pavimentos, com pátio interno.

Fotos relacionadas às penínsulas de Borneo Sporenburg, que abrigam variações tipológicas e uma paisagem urbanística singular. Plano: West 8.