domingo, 2 de outubro de 2011

Luis Kahh - Imortalizado pelo filho

"My Architect. A son's journey", de Nathaniel Kahn, filho de Louis Kahn.


Um filme emocionante que retrata a vida secreta e a obra pública de Luis Kahn, um dos mais importantes arquitetos da segunda metade do século XX, conhecido pela sua pós-modernidade monumental escultórica. Suas obras singulares inspiram-se na integridade das formas clássicas (em 1928 viaja por um ano para conhecer a Grécia e as cidades italianas; e posteriormente, em 1950, especializa-se em arquitetura romana), na interpenetração elegante dos volumes, na repetição precisa de elementos geométricos e nas potencialidades da luz natural. O filme representa a saga de um filho ilegítimo, Nathaniel Kahn, em busca da própria identidade e do conhecimento de suas raízes. Tendo convivido muito pouco com o seu pai, que construiu paralelamente três famílias, Nathaniel traz lembranças truncadas de infância, e ao perder o pai em 1974, aos 11 anos de idade, carrega um mistério sobre a sua própria identidade.



Louis I. Kahn and Nathaniel Kahn - 1970
Photo by Harriet Pattison
© 20003 Louis Kahn Project, Inc.
Disponível em: http://ten18.com/portfolio/MyArchitectFilm/broadbandPop.html. Acesso em outubro de 2011.

Passados mais de 30 anos desde a morte de Luis Kahn, o cineasta inicia uma jornada para decifrar a vida misteriosa de seu pai, um arquiteto judeu, que nasce em 1901 na Estônia e se muda para a Filadélfia em 1906. Proveniente de uma família pobre, Kahn destaca-se desde pequeno pela sensibilidade artística, com talentos que lhe renderam um posicionamento de destaque entre os demais alunos: adquire uma bolsa de estudos e se torna um exímio professor em Yale. Apesar de uma obra concisa, que se concentra nos últimos vinte anos de sua vida, o arquiteto, naturalizado americano, conseguiu atingir um patamar brilhante e uma reputação inquestionável, mudando o curso da arquitetura e influenciando gerações inteiras de arquitetos. Tendo dedicado a sua vida integralmente ao trabalho, Kahn abdica de uma vida convencional, repudia a própria família e se transforma em uma alma solitária e misteriosa que deixa cicatrizes profundas em todos aqueles que se envolveram mais profundamente com ele. As circunstâncias trágicas que rondam a sua morte -  o arquiteto encontrava-se falido, no interior do banheiro da estação de trem da Penn Station, sofreu um ataque cardíaco, e passou dias sem ser identificado -  são reflexo de uma vida solitária e intangível.


O filme é, em essência, uma extraordinária homenagem ao arquiteto; e apesar de denunciar a reputação lamentável de sua vida privada, conta com a enorme generosidade do seu filho, o cineasta Nathaniel Kahn, ao retratar com fidelidade o conjunto de sua obra e inúmeros detalhes que vão desde depoimentos inéditos de ícones da arquitetura e historiadores - Frank O. Gehry, Vincent Scully, I. M. Pei, Philip Johnson, Moshe Safdie - às filmagens excepcionais que colocam o Parlamento de Bangladesh como uma obra prima da arquitetura, reverenciada pelos moradores e usuários como o símbolo da democracia no país. Acompanhado por uma trilha sonora arrebatadora, este filme emocionante preenche mais uma lacuna sobre a vida e a obra monumental deste extraordinário arquiteto.